terça-feira, 17 de julho de 2007

O que é a poesia?

1. Arte de escrever em verso. 2. Composição poética de pouca extensão. 3.Entusiasmo criador. 4. Encanto, graça.*
* Dicionário Aurélio

Creio que a poesia seja algo muito mais abrangente que uma arte ou um entusiasmo criador. É arte, sim; é entusiasmo e encanto sim, mas é muito mais.
A poesia é a vida. A poesia da vida. Viver é poesia.
Mas a morte é também poesia. Morrer é poesia.
Não só o que é belo contém poesia. O feio, o triste, o sofrível têm poesia.
A poesia paira no ar; é o próprio ar que se respira.
É a comida (a poesia de um frango com quiabo no fogão à lenha da casa antiga da fazenda de seus avós); a poesia de um almoço com a família reunida.
A poesia é a fome.
A violência e a brutalidade da fome transformada em poesia.
É a indignação causada pela fome.
É um sentimento. Talvez o melhor conceito para a poesia, sentimento.
Bom ou ruim, não importa. Qualquer forma de expressão do sentimento humano é compatível com poesia, é poesia.
O que você sente quando vê uma casinha antiga, num vilarejo distante, um carro de boi, uma fumacinha saindo da chaminé? Poesia.
O que você sente quando vê o trânsito parado numa grande metrópole, muitos prédios, muita gente apressada, um barulho ensurdecedor? Poesia.
Nostalgia. Poesia.
Tédio. Poesia.
Infância. Lembranças. Poesia.
O que você sente por sua mãe, por seu pai, seus irmãos. Poesia.
Amor. Poesia.
O que você sente quando ouve sua música favorita? Poesia.
Chuva, calor, frio, sol. Poesia.
Sexo. Poesia.
A poesia é tudo.

Poesia, não poema.

Um pintor vê uma paisagem. Uma pessoa. Um animal. Qualquer coisa.
Pega o pincel e retrata o que viu em uma tela, parede, muro, porcelana, etc, dando origem, em uma das hipóteses, a um quadro.
Ele pode distorcer, ocultar, alterar, muito ou pouco, mudar as cores, ou simplesmente retratar fielmente o que viu.
O talento será fundamental.
Entendendo o talento como sendo a quantidade de existência que o artista acumula no seu trabalho, a entrega do artista.
Igualmente, o poeta, primeiramente sente a poesia, capta, apreende.
Pega o lápis e retrata o que sentiu em uma folha de papel, dando origem a um poema.
Ele pode distorcer, ocultar, alterar, ou simplesmente retratar fielmente o que sentiu.
A quantidade de existência que o poeta joga em sua obra é fundamental. A entrega é fundamental, a entrega do poeta. A entrega, essa é a palavra

terça-feira, 10 de julho de 2007

29 anos

de uns vinte e nove anos pra cá,
poucos poetas me fizeram
amar intensamente um poema

reler a cada dois ou três dias
reler e reler em alta voz
e sentir o poema percorrer os ossos

a ocasião faz o poema?

de uns vinte e nove anos pra cá
tenho lido poucas coisas que
me tragam a perplexidade necessária

sim, a perplexidade necessária
que anda escassa e por isso mesmo,
cada vez mais necessária

escassos vinte e nove anos
com algumas raras exceções que,
vez ou outra, abalam
nossos frágeis esqueletos.

terça-feira, 3 de julho de 2007

O "Beethoven do sertão"

Conhecido e admirado pelo Brasil afora como “artesão dos sons”, o violeiro Zé Côco do Riachão foi criado na localidade de Riachão, onde nasceu, às margens do rio que leva o mesmo nome, na confluência dos municípios de Mirabela e Brasília de Minas, no Vale do São Francisco.
O pai era fazedor e tocador de violas. No momento de seu nascimento, passava uma folia-de-reis e ele foi consagrado pela mãe aos santos Reis; por isso "dos Reis" registrado em cartório. Ouvindo seu pai tocar desde que nasceu, aos 8 anos, já tocava viola que ele mesmo ia aprendendo a fazer. Foi marceneiro, carpinteiro, ferreiro, sapateiro, fazedor de cancelas, de engenho, de carro de boi, curral de tira, roda de rolar mandioca, mas o que o tornou conhecido, inclusive internacionalmente, foi a excelência dos instrumentos que fabricava e tocava: viola, violão, cavaquinho e rabeca. Aos vinte anos, assumiu a pequena fábrica de instrumentos de seu pai.
Saía mata afora, batendo com a mão fechada nos troncos das árvores para ouvir o som produzido pelas batidas; e assim ia escolhendo os tipos de madeiras para a confecção de seus instrumentos; e assim ia cumprindo sua sina; e assim aprendeu a ouvir os sons que se escondem em cada pedaço de folha, em cada árvore, em cada pedaço de pau, em cada “centímetro do chão de Minas Gerais”, como ele afirmava.Iniciou a vida artística acompanhando seus pais nas folias-de-reis. A carreira em discos começou em1980, com o lançamento de "Brasil puro" disco considerado por unanimidade pela crítica, como um verdadeiro achado da expressão da nossa cultura popular.
Calangos, valseados, dobrados deram o tom do repertório do artista que foi um dos maiores representantes da tradição da viola. Homem do povo, autodidata, artesão de sons, ele viveu 68 anos praticamente no anonimato, ocupado somente do ofício de construir e consertar instrumentos.
Salve Zé Côco do Riachão, maestro das árias do Sertão.

José dos Reis Barbosa dos Santos, obrigado!