terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Participações

Poesiassim é também um local de encontros e troca de experiências, onde, poetas, escritores, músicos, jornalistas, médicos, advogados, cantadores, psicólogos, boiadeiros, pescadores, professores, calangueiros, dentre outros, amigos antigos, novos e futuros, vêem fazer parte desse culto à poesia e à arte em geral, pois acredito que assim se constrói e se consolida a verdadeira cultura de um povo: com interação, conversas, textos e opiniões.
Sendo assim, Poesiassim abre espaço para quem quiser participar, colaborar, dar opiniões, enfim, fazer alguma coisa.
Mandem poesias favoritas, canções prediletas, textos, peçam que fale de algum poeta em especial, de cantores preferidos, comentem os textos, falem do que quiser, pois teremos prazer em atendê-los. Comuniquem-se através do email: avecesarjf@yahoo.com.br, através do Orkut, através do próprio blog, por carta escrita, mensagem no celular, ou qualquer outra forma que entenderem melhor.
Hoje, apresentamos uma colaboração do amigo Rodrigo San Juan, o Rodrigão, que nos enviou uma das várias poesias de seu avô paterno, e que após ser avaliada por nossa equipe de editores, escritores, poetas e leitores, foi aprovada.
É um belo poema.


Tristeza

Sombra de árvore isolada,
na calma de um crepúsculo sem fim,
grito de angústia, voz dilacerada
de alguém que amo e que vive dentro em mim,
pra ser como eu sou,
vencedor e vencido
e ter nos olhos calmos a brilhar
o reflexo de tudo que sofrido
é preciso ser forte e saber enganar,
abrir do coração todas as portas,
para que o vento da recordação
varresse derradeiras folhas mortas,
folhas que vão da vida para a morte
despindo os olhos e vestindo o chão,
tristeza a tua sorte é igual a minha sorte,
aqui me tens, sou teu irmão.

(Lauro Constâncio San Juan)

domingo, 28 de janeiro de 2007

João Guimarães Rosa - V

Falar de Guimarães Rosa é tarefa empolgante e infindável, pois assim é sua obra,
universo inesgotável de possibilidades.
Isso, para mim, tem um nome: magia!

Assim encerro essa semana em que falei um pouco de João Guimarães Rosa, meu escritor preferido.


O mestre


Montado na mula Balalaica,
de passo leve e cadenciado,
Rosa percorre os sertões de cada um,
encantando,
num deslumbre que enche olho d`água,
deixando rastro na poeira da imaginação.
Calmamente vai desbravando o sertão
existente dentro de cada ser
que se entrega à sua magia.
Vai João, não pare nunca,
não cesse a peregrinação!

(Júlio César Meireles de Andrade)

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

João Guimarães Rosa - IV

João Guimarães Rosa e os vaqueiros


“Quando não entendo bem alguma coisa, então não vou conversar com nenhum professor erudito, procuro um vaqueiro velho de Minas, qualquer um deles, pois todos são sábios”
(Guimarães Rosa)


De todas as qualidades da escrita de Guimarães Rosa, uma é especial: o modo como ele trata e descreve o boiadeiro.
Até meados do século passado, os boiadeiros eram vistos como homens rudes e ignorantes, pessoas discriminadas pelo simples fato de terem nascido e sido criados na zona rural, na roça. O homem do campo era considerado um rústico, que não sabia nem falar, a exemplo do personagem de Monteiro Lobato, o Jeca Tatu que vivia á margem da cidade e da História, sempre de cócoras, como se somente na cidade as pessoas soubessem “viver”. “Viver” podia ser entendido como copiar a moda, os costumes e hábitos dos países “civilizados” da Europa.
A elite cultural desprezava qualquer tipo de cultura que viesse do interior.
Vindo do interior de Minas Gerais, Guimarães Rosa, com sua vasta cultura, soube como ninguém descrever o boiadeiro, trazendo, para o centro das atenções, o homem do sertão, que passou a ser valorizado e admirado.
Junto com os personagens vieram, conseqüentemente, os costumes, o ambiente, e toda uma cultura do interior, do sertão, causando uma verdadeira revolução no modo de pensar e até mesmo de agir de toda a sociedade intelectual brasileira da época.
Assim, podemos afirmar que João Guimarães Rosa foi o grande responsável pela quebra das barreiras entre o popular e o erudito, transformando a gente simples do sertão em verdadeiros pensadores e, sobretudo, poetas.
Sejam os vaqueiros verdadeiros, transpostos para os livros, como Manuelzão, Zito e Mariano, ou os vaqueiros-personagens criados através da inspiração sertaneja, José Uéua, Grivo, Noró, Abel, Mainarte e muitos outros.
Seja na simplicidade da listinha, anotada em um caderno, dos nomes das vacas do Sr. Zito, vaqueiro e cozinheiro: “Farofa, Despedida, Carvoeira, Paquinha, Violeta, Metrage, Sembléia...”
Seja na beleza das palavras do vaqueiro José Uéua: “No coração a gente tem é coisas igual ao que nem nunca em mão se pode ter pertencente: as nuvens, as estrelas, as pessoas que já morreram, a beleza da cara das mulheres...”
Grande boiadeiro das palavras e sentimentos, João Guimarães Rosa, muito obrigado!

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

João Guimarães Rosa - III

A esposa já dera sumiço na coleção completa dos livros de Guimarães Rosa, artigos e ensaios sobre o autor e mais dois ou três volumes de Grande Sertão: Veredas que, de quando em quando, achava escondidos pela casa. Ela foi a primeira a perceber a doença. O marido era compulsivo.
No começo, achava normal uma pessoa passar as férias inteiras dentro de casa lendo Guimarães Rosa noite e dia, só parando quando caía no sono, com o livro aberto em cima do peito.
Mais tarde, começou a estranhar quando o marido, gozando de boa saúde, pedia licença no serviço para tratar de alguma doença e, como nas férias, passava todos os dias da licença em casa lendo Guimarães Rosa.
A situação se agravara. As licenças já não eram suficientes e o marido pediu demissão.
Passava todos os dias, sem exceção, lendo Guimarães Rosa.
Acordava às cinco horas da manhã e, trancado num quartinho, ficava até a hora do almoço lendo. Quando chegava à mesa, deixava o livro aberto ao lado do prato de comida sem mesmo perder a linha do parágrafo que lia.
Não se barbeava mais, pois não podia “perder tempo”. O banho, quando o tomava, era de menos de cinco minutos, marcados no relógio.
A doença era séria.
Procurou médicos e especialistas e, com o tempo, foi conseguindo controlar a compulsão do marido, não sem antes apagar todos os vestígios de Guimarães Rosa que havia em casa.
Sem “combustível” para a compulsão, o marido ia melhorando. Já se alimentava direito, fazia a barba e tomava banho diariamente, como nos tempos de trabalho.
Quando percebia algo diferente, sua reação era sempre a mesma: se o marido ficava algumas horas sumido, a busca era completa; dava uma geral na casa e pronto, lá estava “Primeiras Estórias” escondido debaixo de alguns tacos soltos no chão da sala.
Outra vez, percebendo que o marido já não se barbeava há alguns dias, mais uma busca e inacreditável: “No Urubuquaquá no Pinhém” envolto em um saco plástico dentro da caixinha de água da descarga do banheiro da área de serviço.
Já não sabia o que fazer e, procurando sempre ajuda de parentes e amigos, chegou à conclusão de que uma internação seria necessária.
Onde encontrar uma clínica para aquele tipo de tratamento? Alcoólicos Anônimos? Toxicômanos? Hospício? Alguma clínica especializada?
Nunca ouvira falar de qualquer outro problema sequer parecido com o seu.
Foi quando descobriu um médico-psiquiatra que passara pelo mesmo problema e conseguira se curar, só que o autor era Machado de Assis. As consultas eram de graça e diárias, devido ao interesse do médico, um aplicado estudioso das compulsões, pelo caso em questão.
O marido voltava bem das consultas e passava o resto do dia sem falar em Guimarães Rosa. Com quase dois meses de tratamento intensivo, a cura se anunciava.
Já passava nas portas das livrarias sem qualquer impulso de entrar e liquidar o estoque de Guimarães Rosa. Já conseguia até ter “Tutaméia” nas mãos e nem sequer abri-lo. “Sagarana” foi mais difícil, mas conseguiu ficar dez minutos com um volume antigo nas mãos e não dar sequer uma folheada, nem ao menos para ver o ano da edição. “Manuelzão e Miguilim”, na palma da mão, com seus dedos tocando a orelha do livro... Foi difícil, mas superou. É lógico que todas essas experiências eram realizadas no consultório do médico-psiquiatra e agora amigo, que após a cura, pôde vir a ter em seu consultório uma farta biblioteca, com exceção, é claro, de Machado de Assis.
Mas havia ainda, o grande desafio: “Grande Sertão: Veredas.”
Esse sim, seria a vitória, a tão esperada cura.
Mais um dia sem Guimarães Rosa. Era assim que conseguia controlar a doença.
Mais um dia sem Guimarães Rosa.
O tratamento avançava e, finalmente, “Grande Sertão: Veredas” por mais de uma hora nas mãos. O olhar fixo na capa com as ilustrações de Poty. As mãos trêmulas. O suor a escorrer-lhe no rosto. Duas ameaças de abrir o livro, gloriosamente contidas a tempo. Sim, era a cura, afirmava o médico. Estava finalmente curado.
Curado, mas condenado a nunca mais se encantar com as estórias de “um chamado João”. Era o preço a se pagar...
Só mais um dia sem João Guimarães Rosa...


(Júlio César Meireles de Andrade)

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

João Guimarães Rosa - II

O poeta João Guimarães Rosa

João Guimarães Rosa é, sem dúvida, um dos maiores prosadores da literatura mundial, o que é de conhecimento de todos. Porém, o que muitos não conhecem é o poeta Guimarães Rosa.
Premiado em 1936, pela Academia Brasileiras de Letras, o livro intitulado “Magma”, de Guimarães Rosa, é uma obra escrita em versos.
Os poemas contidos nesse livro são tão belos quanto a escrita em prosa que viria a desenvolver posteriormente e que o consagraria como um dos melhores escritores do século.
Vale ressaltar a conclusão do parecer proferido pelo relator Guilherme de Almeida, na votação do Concurso literário da Academia Brasileira de Letras, em que “Magma foi vitorioso:

“É, pois, meu parecer que seja o 1º prêmio do Concurso de Poesia de 1936 concedido ao livro Magma, de joão Guimarães Rosa; e que não seja a ninguém, neste torneio, conferido o 2º prêmio, tão distanciados estão do primeiro premiado os demais concorrentes.
Tal é, salvo melhor juízo, o meu parecer.

São Paulo, 22 de novembro de 1936. Guilherme de Almeida, Relator

(Revista da Academia Brasileira de Letras, ano 28, vol. 54, p. 236)

Infelizmente, mesmo com o 1º lugar no Concurso, “Magma” continuou inédito, não sendo publicado, dizem que por vontade do próprio autor. Somente em 1997, a Editora Nova Fronteira publicou os poemas num volume digno de Guimarães Rosa.


Reportagem

O trem estacou, na manhã fria,
num lugar deserto, sem casa de estação:
a parada do Leprosário...

Um homem saltou, sem despedidas,
deixou o baú à beira da linha,
e foi andando. Ninguém lhe acenou...

Todos os passageiros olharam ao redor,
com medo de que o homem que saltara
tivesse viajado ao lado deles...

Gravado no dorso do bauzinho humilde,
não havia nome ou etiqueta de hotel:
só uma estampa de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro...

O trem se pôs logo em marcha apressada,
e no apito rouco da locomotiva
gritava o impudor de uma nota de alívio...

Eu quis chamar o homem, para lhe dar um sorriso,
mas ele ia já longe, sem se voltar nunca,
como quem não tem frente, como quem só tem costas...

(João Guimarães Rosa)

domingo, 21 de janeiro de 2007

João Guimarães Rosa - I

Eu peço licença aos doutores para falar de João Guimarães Rosa.

Centenas de teses sobre João Guimarães Rosa são publicadas anualmente em diversas universidades do Brasil, formando, assim, muitos mestres e doutores na obra desse escritor.
Não sou um deles. Nem sequer cursei Letras.
Contudo, na condição de apaixonado pelos livros de Guimarães Rosa, ouso discorrer sobre algumas de suas obras.
Concordo com o maestro Tom Jobim que “para se entender uma coisa, é preciso amá-la”. E eu amo a escrita de Rosa.
Não sei qual é o meu preferido, pois é difícil eleger um dentre os livros de Guimarães Rosa, assim como também o é mensurar a dimensão de sua obra.
Esclarecimentos devidamente prestados falo aqui de “Cara-de-Bronze”.

Sem dúvida, um dos textos mais belos e enigmáticos de Guimarães Rosa. Redigido como um roteiro cinematográfico, essa novela se passa numa grande fazenda do interior dos Gerais, onde trabalham muitos vaqueiros: no Urubuquaquá.
O texto já começa encantando o leitor que sempre tem na memória a imagem de alguma fazenda antiga, do interior de Minas Gerais:

“A casa – avarandada, assobradada, clara de cal, com barra de madeira dura nos janelões – se marcava. Era seu assento num pendor de bacia (...) A casa, batentes de pereiro e sucupira, portas de vinhático.”

O dono da fazenda, Segisberto Jéia, por alcunha o “Cara-de-Bronze”, é um fazendeiro misterioso que não sai da casa-sede, pois fora acometido por uma paralisia. Os vaqueiros, na maioria, não o conhecem, sendo o acesso à vivenda do patrão restrito a alguns poucos de confiança.
As especulações são muitas:

“O vaqueiro Tadeu: É devera minha gente... ele é magro, empalidecido.
O vaqueiro Adino: Muito morenão...
Moimeichego: Mas, é pálido, ou é moreno?
Outro vaqueiro: Palidez morena...
Outro vaqueiro: Tem partes e tem horas... O alto da cara com ossões ossos...”


Certo dia, o patrão Cara-de-Bronze, depois de avaliar um a um os seus vaqueiros, designa o vaqueiro Grivo para partir em uma viagem misteriosa.

“Vai , um dia, o Grivo arrumou seus dobros, amarrou seus tentos. Selou seu cavalo.
- Subiu a cavalo. No cavalo melhor, do Cara-de-Bronze...”


A viagem do Grivo e, após algum tempo, o seu retorno são comentário geral entre os vaqueiros que trabalhavam no lugar. Todos estão muito curiosos para saber o verdadeiro objetivo da viagem do Grivo.
Diziam que o Grivo fora o escolhido por ser considerado um vaqueiro bom de fala.

“Essas coisas que o Grivo falou:
- Sabiá na muda: ele escurece o gorjeio... Bentevi gritou, papinho dele de alegria de amarelo tanto quase não rebentava... Pássaro do mato em toda parte voa torto – por causa de acostumado com as grades das árvores...”

Na volta, o Grivo conta tudo do que viveu e viu durante suas andanças, com seu jeito peculiar de contar, por meio de respostas evasivas e ambíguas. Descreve nomes de árvores, inúmeras:

“Com que pessoas de árvores ele topou?
- A ana-sorte. O João-curto. O sebastião-de-arruda. O sã-fidélis. O angelim-macho. O angelim-amargo. O guzabu-preto...”

descreve os pássaro:

“Perequitos e maitacas. A maritaca-de-fita-vermelha-atrás-do-bico. O papagaio-trombeteiro. As araras. A alma-de-gato. A codorninha-buraqueira. A juriti-do-peito-amarelo...”

descreve animais e insetos:

“O jacaré tenterê. O sapo mira-lua. A abelha manoel-de-abreu. A vespa joão-caçador mais a vespa maria-rita...”

E, na “Narração do Grivo”, João Guimarães Rosa cria uma das mais belas passagens da literatura mundial, com uma construção inusitada, intercalando o texto com textos de roda-pé, como que conduzindo e explicando ao leitor tudo que o Grivo viu e sentiu.
Além da beleza e encanto das falas dos boiadeiros, a descrição de suas labutas e costumes, o mistério do Grivo e do Cara-de-Bronze, Guimarães Rosa acrescenta à história um violeiro que, da varanda da casa-sede, somente observa e canta, ponteando a viola, oportunidade em que são inseridas na obra muitas quadras de cantigas populares, como as Cantigas de Serão de João Barandão, tornando mais encantadora essa obra-prima da literatura.Posteriormente, Guimarães Rosa esclareceria ao seu tradutor italiano Edoardo Bizzarre que “Cara-de-Bronze” referia-se à poesia, pois que, em várias passagens dessa novela, colocava nos ditos dos vaqueiros “tentativas de definição da poesia”, sendo que a personagem Cara-de-Bronze, depois de fugir de sua terra quando moço e passar toda a vida longe, mandou um vaqueiro seu viajar até sua terra natal, para depois, poder ouvir dele todas as belezas e poesias de lá. Assim, o Cara-de-Bronze mandou, pois, o Grivo buscar poesia!

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Cora Coralina

Becos de Goiás

Beco da minha terra...
Amo tua paisagem triste, ausente e suja.
Teu ar sombrio. Tua velha umidade andrajosa.
Teu lodo negro, esverdeado, escorregadio.
E a réstia de sol que ao meio-dia desce, fugidia
e semeia polmes dourados no teu lixo pobre,
calçando de ouro a sandália velha,
jogada no teu monturo.

Amo a prantina silenciosa do teu fio de água,
descendo de quintais escusos
sem pressa,
e se sumindo depressa na brecha de um velho cano.
Amo a avenca delicada que renasce
na frincha de teus muros empenados,
e a plantinha desvalida, de caule mole
que se defende, viceja e floresce
no agasalho de tua sombra úmida e calada.

Amo esses burros-de-lenha
que passam pelos becos antigos. Burrinhos dos morros,
secos, lanzudos, malzelados, cansados, pisados.
Arrochados na sua carga, sabidos, procurando a sombra,
no range-range das cangalhas.

E aquele menino, lenheiro ele, salvo seja.
Sem infância, sem idade.
Franzino, maltrapilho,
pequeno para ser homem,
forte para ser criança.
Ser indefeso, indefinido, que só se vê na minha cidade.

Amo e canto com ternura
todo o errado da minha terra.

Becos da minha terra,
discriminados e humildes,
lembrando passadas eras...

(...)
(Cora Coralina)


Nascida em Goiás Velho/GO, em 20 de agosto de 1889, Cora Coralina Começou a escrever aos 14 anos, fazendo, assim, com que ela fosse repudiada pela sociedade, pois que a poesia não fazia parte das “prendas” de uma moça de família no início do século XX.
Escreveu durante toda a vida e, somente aos 75 anos publicou seu primeiro livro; prova de paciência e, acima de tudo, amor à poesia.
Passou quase todo o século XX desconhecida, tendo somente em 1979, sido revelada ao grande público, após sua obra chegar às mãos de Carlos Drumond de Andrade que, ao elogiar sua poesia, confirmava a qualidade e beleza de seus versos.
Cora Coralina, com sua lírica ingênua e sentimental, rememora o passado fazendo com que sua poesia seja duplamente deliciosa. Seus versos são, além de belos poemas, relatos que documentam a vida, o cotidiano e os costumes do interior de Goiás e do Brasil, no começo do século XX.
Em 10 de abril de 1985, aos 96 anos, Cora Coralina faleceu, deixando o mundo mais triste sem seus versos.

Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas, obrigado!

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Santos

Apelo


Meus santos
são os caboclos brasileiros,
que nascem da terra
e por ela morrem.

Rezai
por esses homens.
Lutadores!
Amém.

(Júlio César Meireles de Andrade)


Tenho em casa, na minha estante, uma estatueta de São Francisco de Assis, meu protetor.
Por ter nascido no dia 05 de outubro, um dia após ao que se comemora o dia de São Francisco, minha mãe me entregou a este santo como o fazia sempre que nascia um filho seu. Assim foi comigo e com meus irmãos.
Não sou muito interessado em religiões, não freqüento missas e outros cultos e conheço pouco da vida dos santos católicos, mas já que minha mãe, sendo católica, escolhera São Francisco de Assis para proteger-me durante toda minha vida, passei a ser devoto desse santo, respeitando, acima de tudo a escolha de minha mãe.
Admiro São Francisco de Assis por duas virtudes que nortearam sua vida: a simplicidade e o amor.
Admiro a simplicidade. Acredito no amor.
Acredito, também, que homens especiais se tornam santos e assim como Francisco alguns outros mereceriam igualmente, uma estatueta em minha estante...

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Sobre amizade

“Os amigos são anjos que nos ajudam a levantar quando nossas asas esquecem como voar”

A um amigo


Invadir a alma de um homem
no âmago de seus sentimentos.

Na privacidade de seu lar,
remexer suas saudades,
observar antigas fotografias,
compartilhar de seu pão e
de sua intimidade;
brincar com seu cão
como se fosse teu.

Nos intrincados caminhos de seu peito,
reviver antigas lembranças,
relembrar o passado, a amizade,
os momentos difíceis, as alegrias.

Ter a liberdade de o fazer,
pois que a fortaleza de um homem,
por mais forte e segura que pareça ser,
sempre terá as portas abertas e
a guarda baixada
para a acolhida de um
verdadeiro amigo.

(Poema tirado do livro Ensinamentos de amor de Júlio César Meireles de Andrade, com lançamento previsto para este ano)

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Dia de Reis

“Depois que Jesus nasceu em Belém da Judéia, nos dias do Rei Herodes, magos vindos do oriente chegaram a Jerusalém e perguntaram: “Onde está o recém-nascido rei dos judeus? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo.”” (Mateus 1:2,3)

Os Três Reis Magos levaram ouro, incenso e mirra e após a visita a Jesus, não retornaram para dizer a Herodes onde o menino havia nascido. Furioso, Herodes ordenou que matassem todos os meninos com idade inferior a dois anos, em Belém e nas proximidades, contudo, um comandante convenceu uma tropa a não cumprir as ordens do Rei e sim cantar e angariar presentes para entregarem ao Menino Jesus. E assim fizeram o comandante e seus soldados.

Esta é, resumidamente, a história da Folia de Reis, uma das mais belas manifestações culturais do Estado de Minas Gerais e do Brasil.
Compostas geralmente por duas violas (de dez cordas), um violão, um violino ou rabeca, um pandeiro, uma caixa e um bumbo, podendo ter algumas variações, as Folias percorrem as casas da cidade, sítios e fazendas, onde os foliões entram e são bem recebidos, sempre com muita fartura de comida e bebida.
Os cantadores, uniformizados, representam os soldados, sempre com roupas iguais; o palhaço, representa o comandante da tropa de Herodes, também chamado “espia do Rei Herodes”, com roupa diferente e máscara.

Embora esquecida e desvalorizada pela grande maioria, as Folias de Reis fazem parte do maravilhoso acervo que compõe a rica cultura popular brasileira. É beleza, é arte.
Como é bonito ver a cultura de um povo sendo valorizada.
Como é bonito ver uma Folia de Reis cantando.


Viva Santo Reis. Viva!
Viva os Três Reis do Oriente. Viva!
Viva a estrela guia. Viva!
Viva a nossa guia. Viva!
Viva a toda companhia. Viva!
O patrão com a família. Viva!”

(Domínio Popular- Tirado dos cantos de folias de Os Mensageiros dos Santos Reis)

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

Preferências poéticas

Eles (não) são homens comuns


Ruy Alberto d’Assis Espinheira Filho tomando um
banho de mar, numa manhã de domingo, em Salvador/BA.

Amadeu Thiago de Mello empinando papagaio, na
margem direita do Paraná do Ramos, em Barreirinha/AM.

Affonso Romano de Sant’anna tomando uma média e
pão com manteiga, num bar qualquer de Juiz de Fora/MG.

Elomar Figueira de Mello arrumando uma cerca no curral
da Casa dos Carneiros, no município de Vitória da Conquista/BA.

Adélia Luzia Prado de Freitas servindo um café para suas
visitas, na sala de sua casa, em Divinópolis/MG.

Manoel Wenceslau Leite de Barros saindo à tarde
para tomar umas pingas em Campo Grande/MS.

Francisco Pascoal Araújo, levantando bem cedo, com um
penico cheio de urina, para regar alguma árvore no
quintal de sua residência em Andrelândia/MG.

Seres humanos como quaisquer outros em suas
atividades cotidianas, deixando a vida fluir.

Seres que encantam e por isso tornam-se especiais.

Seriam simplesmente homens comuns?

(Júlio César Meireles de Andrade)