sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Canção

Chão de barro
coração.
Enxada na mão
Nosso pai!

Criança é começo.

Matuto olhando o luar
aluar.
Galos no terreiro
Teu sorriso!

Crescer é canção.

Uma flor para teu olhar
olhar.
Um jacarandá
O fim!

Corpo é só corpo.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Trindade

Outrora estive nas longínquas tendas.
Sultão... o meu serralho... as bailarinas...
A música das harpas, oferendas...
Alvos sorrisos, bocas coralinas.

Desci de manso, assim como nas lendas,
Do doce Nilo as águas sulfurinas.
No barco azul de vaporosas rendas,
O perfume enebriante das resinas.

Depois... fui me aportando de mansinho;
Desprendeu-se a âncora do barco... e fiz
O meu porto no mar de teu carinho.

Hoje, em meu quarto, tenho paraíso
Nesta trindade que me faz feliz:
A chuva, o meu cachimbo e o teu sorriso.

13 de junho de 1956

Poema do saudoso poeta andrelandense Dr. Pascoal Araújo

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Louvação

Ajoelhe no oratório de chão, perante o altar das árvores,
e acenda os cânhamos para agradecer o rebento que nasce
e que chora, com boa saúde, pelo leite da mãe.

Velas queimando em louvação e os bois berrando,
o tabapuã de olhar calmo e sereno,
o guzerá pegador, de índole má, que investe na sombra.

Rezas, rêses, rendas e ruindades no seu chão e
as marrecas e paturis no vôo solo ou em bandos
que orquestram a sinfonia do ar.

Curve-se diante da imponência e da fertilidade de
um mísero grão de feijão e comece a acreditar na
soberania e na força da multiplicação desse pequeno bago,

pois quem crê na soberania do pequeno
compartilha do grande conhecimento dos mais sábios
e herda o reino da paciência e da sensatez.

Contemple por mais tempo a pacificidade da lagoa e
agradeça o dom de adivinhar a mandioca no chão;
caminho de raízes, guiadas pelas vozes da terra.

Chore devido à fumaça da lenha ruim estalando
nas brasas do fogo que hipnotiza o olho
descansado do pobre velho cansado.

Cante, com as lavadeiras da curva do rio,
a pureza da água que dissolve o sabão de cinzas
que esfrega a brancura dos linhos e algodões .

E olhe ao redor, admirando a grandeza de seu pequeno mundo.