sexta-feira, 9 de maio de 2008

Eugénio de Andrade

O LUGAR DA CASA

Uma casa que fosse um areal
deserto; que nem casa fosse;
só um lugar
onde o lume foi aceso, e à sua roda
se sentou a alegria; e aqueceu
as mãos; e partiu porque tinha
um destino; coisa simples
e pouca, mas destino
crescer como árvore, resistir
ao vento, ao rigor da invernia,
e certa manhã sentir os passos
de abril
ou, quem sabe?, a floração
dos ramos, que pareciam
secos, e de novo estremecem
com o repentino canto da cotovia


Eugénio de Andrade foi o pseudónimo de José Fontinhas Rato poeta português nascido em 19 de Janeiro de 1923 em Póvoa de Atalaia, Fundão.
Os seus poemas, geralmente curtos, mas de grande densidade, e aparentemente simples, privilegiam a plenitude da vida e dos sentidos, despertando em quem os lê, uma grande excitação poética, um gosto de amor que fica, após cada leitura.
Coisas de quem amava profundamente a poesia.
Faleceu a 13 de Junho de 2005, no Porto, após uma doença neurológica prolongada.

Obrigado Eugénio de Andrade!

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