quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Livros

Das muitas sensações que um livro desperta, uma é especial: o poder de, a cada releitura, fazer com que você relembre a última vez que o leu, ou a primeira.
O contexto do momento em que você leu aquele livro que agora tem nas mãos novamente. A magia que as páginas do livro têm de fazer aflorar-lhe na mente, o cheiro, os sons, as preocupações, as alegrias que à época da(s) leitura(s) anterior(es) percorriam seus sentidos.
As pessoas queridas com que você conversava sobre o livro ou que estavam ao seu redor no momento da leitura, e que agora não mais estão por aqui.
Lembro-me de quando relia, pela segunda vez, Grande Sertão: Veredas, em 2001, deitado no sofá da sala de minha casa (que agora fica em outra posição) e meu estimado tio e padrinho Guido comentava comigo que havia conhecido pessoalmente o Manuelzão.
Lembro-me também que, lendo pela primeira vez Quincas Borba, aos 15 anos, tendo às mãos um exemplar sem capa, velhinho e destruído, minha querida mãe queria remendar o livro e eu não deixava, pois não queria interromper a leitura e, ainda assim, no outro dia, ao acordar bem cedo, encontrei o livro todo arrumado, colado com durex, em cima da escrivaninha onde eu estudava, (onde foi parar esse exemplar de Quincas Borba?
Onde estará essa escrivaninha que eu tanto gostava?).
Lembro, ainda, de umas férias de julho de muito frio, em que li Levantado do chão, no meu Sítio, quando passei uma semana sozinho, lendo, plantando mudas de algumas árvores e cozinhando minha comida.
Ontem reli alguns poemas de Adélia Prado. Com Bagagem nas mãos, livro que reli quando meu filho nasceu, senti o mesmo frio na barriga sentido na semana em que ele veio ao mundo, até o cheiro do álcool usado para curar o seu umbiguinho me veio novamente às narinas...
E assim vamos nos encantando com a literatura e relembrando, nostalgicamente, de passagens da nossa vida que talvez, se não fosse a leitura de alguns livros, poderiam ficar esquecidas para sempre.

Um comentário:

Carrie, a Estranha disse...

Ai, q coisa chique, Primo! Só vc mesmo pra já ter relido Grande Sertão há tempos!

Q fofo esse seu texto!

E livro com dedicatórias de pessoas q já se foram? Nossa, esses são de doer!

Bjs