quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Caio Junqueira Maciel


Fotografia

Contemplo a fotografia do pai brincando com a última neta;
adivinho-lhe as palavras ditas, risos idos
percebo até mesmo os dedos se moverem,
tocando o nariz de Rachel.
Agora a fotografia vive, a criança grita,
sua mãe põe-lhe a chupeta e o avô caminha para a farmácia
ele segura algumas notas de um cruzeiro.
Ouço conversas corriqueiras de manhã de domingo,
vem da igreja um resto de sermão da missa das dez.
Sinto o azul do céu de Cruzília
que aos poucos pincela a foto em preto e branco.
O amarelo da igreja agride o verde do jardim,
na rua passa o fusca vermelho do sô Saulo
e minha mãe vem da feira trazendo couve-flor.
O cheiro de iguarias chega-me, nítido.
Vadico sutilmente surrupia um pastel da bandeja
e Aninha, de avental, inventa um novo prato.
Olho tudo, com fome de tudo, aqui,
do outro lado do retrato. 

2 comentários:

Anônimo disse...

Fala Júlio. Gostei muito desse poema.
Ab.
Fabrício

Júlio César Meireles de Andrade disse...

Grande Fabrício,
também gosto muito desse poema.
É de um poeta e compositor de Cruzília, amigo meu. Ele é professor de literatura em Belo Horizonte. Tenho um livro e um cd dele que ele mesmo me enviou.
Grande abraço.