segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

João Guimarães Rosa - II

O poeta João Guimarães Rosa

João Guimarães Rosa é, sem dúvida, um dos maiores prosadores da literatura mundial, o que é de conhecimento de todos. Porém, o que muitos não conhecem é o poeta Guimarães Rosa.
Premiado em 1936, pela Academia Brasileiras de Letras, o livro intitulado “Magma”, de Guimarães Rosa, é uma obra escrita em versos.
Os poemas contidos nesse livro são tão belos quanto a escrita em prosa que viria a desenvolver posteriormente e que o consagraria como um dos melhores escritores do século.
Vale ressaltar a conclusão do parecer proferido pelo relator Guilherme de Almeida, na votação do Concurso literário da Academia Brasileira de Letras, em que “Magma foi vitorioso:

“É, pois, meu parecer que seja o 1º prêmio do Concurso de Poesia de 1936 concedido ao livro Magma, de joão Guimarães Rosa; e que não seja a ninguém, neste torneio, conferido o 2º prêmio, tão distanciados estão do primeiro premiado os demais concorrentes.
Tal é, salvo melhor juízo, o meu parecer.

São Paulo, 22 de novembro de 1936. Guilherme de Almeida, Relator

(Revista da Academia Brasileira de Letras, ano 28, vol. 54, p. 236)

Infelizmente, mesmo com o 1º lugar no Concurso, “Magma” continuou inédito, não sendo publicado, dizem que por vontade do próprio autor. Somente em 1997, a Editora Nova Fronteira publicou os poemas num volume digno de Guimarães Rosa.


Reportagem

O trem estacou, na manhã fria,
num lugar deserto, sem casa de estação:
a parada do Leprosário...

Um homem saltou, sem despedidas,
deixou o baú à beira da linha,
e foi andando. Ninguém lhe acenou...

Todos os passageiros olharam ao redor,
com medo de que o homem que saltara
tivesse viajado ao lado deles...

Gravado no dorso do bauzinho humilde,
não havia nome ou etiqueta de hotel:
só uma estampa de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro...

O trem se pôs logo em marcha apressada,
e no apito rouco da locomotiva
gritava o impudor de uma nota de alívio...

Eu quis chamar o homem, para lhe dar um sorriso,
mas ele ia já longe, sem se voltar nunca,
como quem não tem frente, como quem só tem costas...

(João Guimarães Rosa)

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